Fonte: http://www.techtudo.com.br/platb/internet/2011/06/20/a-internet-e-reflexo-do-que-somos-e-vice-versa/
No post anterior, destaquei ferramentas e serviços na internet que passaram a existir nos últimos 10 anos e que mudaram completamente nossa maneira de lidar com a informação, com os outros e com nós mesmos.
Muitos leitores sugeriram outros nomes para a lista, como MySpace e eBay, entre outros. Na verdade, seria quase infinita uma lista exaustiva de sites que marcaram suas épocas ou que pavimentaram o caminho para sucessores mais famosos.
Isso não atrapalha o debate sobre o ponto que prometi abordar hoje: o que tanta novidade em tão pouco tempo fez com nossas cabeças?
Um site pode ser legal, pode ser uma mão na roda, ocupar nossas horas. Mas só um ecossistema inteiro de serviços, conteúdo e aplicações pode mudar nossa maneira de ver o mundo. E a internet e sua miríade de analogias biológicas é esse ecossistema complexo, mutante e desafiador.
Em 1999, a bióloga Deborah Gordon lançou um livro chamado “Ants at Work” (Formigas Trabalhando), com os resultados de anos estudando formigas e suas colônias. Entre as muitas descobertas estava uma teoria curiosa: embora cada formiga fosse surpreendente sofisticada e autônoma, capaz de assumir múltiplas funções dentro da sociedade, o formigueiro em si se comportava como um ser vivo único. É como se o bicho fosse o formigueiro, e as formigas fossem apenas células e órgãos.
Ela descobriu que formigueiros nasciam, se reproduziam e morriam. Que se alimentavam e produziam dejetos. Tudo tal e qual outros seres vivos. Mas o formigueiro não tem um cérebro. A rainha não “manda geral” como podemos supor. Ela cumpre um papel, tanto quanto seus milhões de súditos. Então quem manda? Quem pensa pelo formigueiro? Seu cérebro coletivo.
Quando a gente olha para o cérebro humano, especialmente para um tipo de reprodução chamada conectomo (tradução livre do inglês connectome), ele se parece com uma gambiarra de fios, nós e ligações entre eles. Essa gambiarra não é igual de uma pessoa para outra, e nem é estática ao longo de nossas vidas. Nossos cérebros se reconfiguram a todo instante, com base nas informações e estímulos que absorvemos e nos raciocínios que exercitamos.
Esse desenho é mais ou menos assim:
A primeira vez que me deparei com um conectomo, numa palestra sobre o assunto, a imagem me chamou a atenção pela grande semelhança com outra, esta última bem presente no meu dia-a-dia: um mapa da internet. Como esse:
Nessa hora você fala “Ohhhh”. Sim, são muito parecidos. E não acredito que seja por acaso. Afinal, a internet é o formigueiro que nós, formiguinhas, construímos a cada clique. As máquinas, códigos e robôs por traz de tudo são os neurônios, se reconfigurando a cada novo “enter”, a cada novo “clique”, a cada novo “curti”. A internet é um reflexo de quem somos, de como pensamos. E nós cada vez mais somos um reflexo da internet.
Estamos mudando. E posso destacar aqui quatro novas facetas desse Homo Digitalis:
- O Eu Coletivo
- Eu Social
- Eu Transparente
- Eu consumidor
O Eu Coletivo é figura recorrente nos meus textos. É o humano cujo cérebro se expande além do corpo. Está na cabeça, mas também na Wikipédia, no Evernote, na agenda de aniversário do Orkut. Que compartilha conteúdo, que aprende e ensina como jamais na história da humanidade.
Cada vez que compartilhamos conhecimento, num blog, comunidade ou vídeo, estamos construindo uma inteligência coletiva, um cérebro virtual a ser acessado por qualquer um. Cada vez que aprendemos algo nessas ferramentas, estamos conectando nossos neurônios a esse sexto sentido virtual, um sentido de onisciência e onipresença.
O Eu Social é esse bicho capaz de ter um milhão de amigos sem precisar ser o Roberto Carlos. Um animal tão social que consegue manter vínculos com centenas de pessoas. E que descobre que as influencia e é influenciado por elas. É um bicho que leva à democratização das celebridades. Todos serão famosos por 15 minutos. Uma vez ouvi uma adaptação pertinente: na verdade, todos serão famosos ao menos para 15 pessoas. E quando todos forem VIP? Ninguém será VIP?
O Eu Transparente está ligado a outro ponto recorrente: a privacidade. Não há rede social sem se compartilhar parte de sua vida particular. E, na outra ponta, há a evasão de privacidade, quando optamos por conta própria por nos expor. Basta observar o comportamento da turma mais jovem com Twitter, fotos e vídeos para ver como nossa relação com a própria imagem, com o próprio corpo, mudou.
Por fim temos o Eu Consumidor, evidenciado nas novas formas de se negociar – das compras coletivas ao financiamento conjunto, o chamado crowdfunding – e em nossa impaciência com as falhas em produtos e serviços. O resultado? Todo mundo xingando muito no Twitter. E, com isso, mudando todo um mundo capitalista que precisa rever suas formas de produzir, entregar e, especialmente, cativar clientes.
É cedo demais para dizer se há mais mudanças. Ou se elas vão durar para sempre. E é quase impossível se analisar um cenário de dentro dele. Precisaremos deixar o tempo passar e conferir tudo isso em retrospecto. Até lá, quem sabe, já não faremos parte de um outro formigueiro, ainda mais repleto de novidades e revoluções?
No post anterior, destaquei ferramentas e serviços na internet que passaram a existir nos últimos 10 anos e que mudaram completamente nossa maneira de lidar com a informação, com os outros e com nós mesmos.
Muitos leitores sugeriram outros nomes para a lista, como MySpace e eBay, entre outros. Na verdade, seria quase infinita uma lista exaustiva de sites que marcaram suas épocas ou que pavimentaram o caminho para sucessores mais famosos.
Isso não atrapalha o debate sobre o ponto que prometi abordar hoje: o que tanta novidade em tão pouco tempo fez com nossas cabeças?
Um site pode ser legal, pode ser uma mão na roda, ocupar nossas horas. Mas só um ecossistema inteiro de serviços, conteúdo e aplicações pode mudar nossa maneira de ver o mundo. E a internet e sua miríade de analogias biológicas é esse ecossistema complexo, mutante e desafiador.
Em 1999, a bióloga Deborah Gordon lançou um livro chamado “Ants at Work” (Formigas Trabalhando), com os resultados de anos estudando formigas e suas colônias. Entre as muitas descobertas estava uma teoria curiosa: embora cada formiga fosse surpreendente sofisticada e autônoma, capaz de assumir múltiplas funções dentro da sociedade, o formigueiro em si se comportava como um ser vivo único. É como se o bicho fosse o formigueiro, e as formigas fossem apenas células e órgãos.
Ela descobriu que formigueiros nasciam, se reproduziam e morriam. Que se alimentavam e produziam dejetos. Tudo tal e qual outros seres vivos. Mas o formigueiro não tem um cérebro. A rainha não “manda geral” como podemos supor. Ela cumpre um papel, tanto quanto seus milhões de súditos. Então quem manda? Quem pensa pelo formigueiro? Seu cérebro coletivo.
Quando a gente olha para o cérebro humano, especialmente para um tipo de reprodução chamada conectomo (tradução livre do inglês connectome), ele se parece com uma gambiarra de fios, nós e ligações entre eles. Essa gambiarra não é igual de uma pessoa para outra, e nem é estática ao longo de nossas vidas. Nossos cérebros se reconfiguram a todo instante, com base nas informações e estímulos que absorvemos e nos raciocínios que exercitamos.
Esse desenho é mais ou menos assim:
A primeira vez que me deparei com um conectomo, numa palestra sobre o assunto, a imagem me chamou a atenção pela grande semelhança com outra, esta última bem presente no meu dia-a-dia: um mapa da internet. Como esse:
Nessa hora você fala “Ohhhh”. Sim, são muito parecidos. E não acredito que seja por acaso. Afinal, a internet é o formigueiro que nós, formiguinhas, construímos a cada clique. As máquinas, códigos e robôs por traz de tudo são os neurônios, se reconfigurando a cada novo “enter”, a cada novo “clique”, a cada novo “curti”. A internet é um reflexo de quem somos, de como pensamos. E nós cada vez mais somos um reflexo da internet.
Estamos mudando. E posso destacar aqui quatro novas facetas desse Homo Digitalis:
- O Eu Coletivo
- Eu Social
- Eu Transparente
- Eu consumidor
O Eu Coletivo é figura recorrente nos meus textos. É o humano cujo cérebro se expande além do corpo. Está na cabeça, mas também na Wikipédia, no Evernote, na agenda de aniversário do Orkut. Que compartilha conteúdo, que aprende e ensina como jamais na história da humanidade.
Cada vez que compartilhamos conhecimento, num blog, comunidade ou vídeo, estamos construindo uma inteligência coletiva, um cérebro virtual a ser acessado por qualquer um. Cada vez que aprendemos algo nessas ferramentas, estamos conectando nossos neurônios a esse sexto sentido virtual, um sentido de onisciência e onipresença.
O Eu Social é esse bicho capaz de ter um milhão de amigos sem precisar ser o Roberto Carlos. Um animal tão social que consegue manter vínculos com centenas de pessoas. E que descobre que as influencia e é influenciado por elas. É um bicho que leva à democratização das celebridades. Todos serão famosos por 15 minutos. Uma vez ouvi uma adaptação pertinente: na verdade, todos serão famosos ao menos para 15 pessoas. E quando todos forem VIP? Ninguém será VIP?
O Eu Transparente está ligado a outro ponto recorrente: a privacidade. Não há rede social sem se compartilhar parte de sua vida particular. E, na outra ponta, há a evasão de privacidade, quando optamos por conta própria por nos expor. Basta observar o comportamento da turma mais jovem com Twitter, fotos e vídeos para ver como nossa relação com a própria imagem, com o próprio corpo, mudou.
Por fim temos o Eu Consumidor, evidenciado nas novas formas de se negociar – das compras coletivas ao financiamento conjunto, o chamado crowdfunding – e em nossa impaciência com as falhas em produtos e serviços. O resultado? Todo mundo xingando muito no Twitter. E, com isso, mudando todo um mundo capitalista que precisa rever suas formas de produzir, entregar e, especialmente, cativar clientes.
É cedo demais para dizer se há mais mudanças. Ou se elas vão durar para sempre. E é quase impossível se analisar um cenário de dentro dele. Precisaremos deixar o tempo passar e conferir tudo isso em retrospecto. Até lá, quem sabe, já não faremos parte de um outro formigueiro, ainda mais repleto de novidades e revoluções?
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